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GARRINCHA LAUTREC.

Disforme, anatomia não-linear desafiando a própria natureza, o mago de pernas tortas movia-se a absinto e mulheres no Moulin-Rouge dos anos 50 e 60.
Assistir Garrincha era um deleite de danças loucas pela direita do futebol.
Garrincha que insistia em cultivar sua arte na bebida e viu sua vida destruída pelas incessantes sessões de can-can.
Tudo regado a vermelhos e amarelos, movimento e destruição.

Por que Garrincha não era Nilton Santos?
Sábio e eterno?



Nilton Santos?

Sábio e eterno?
Falsa impressão.

Como falsas impressões eram as atuações da Enciclopédia, fingindo ser o que não era, diáfano, pré-moderno, subtraindo a bola sem fazer esforço, distante.
Para entender Nilton Santos, o torcedor precisava distanciar-se na arquibancada, calado.
Apenas de longe era possível compreender sua finta, suas subidas ao ataque, o refinamento de seus nenúfares.
NILTON SANTOS ERA MONET e a gente não sabia.

Eu sei.



DIDI CÉZANNE.

Cores e volumes únicos da pelota.
Folhas secas derrubando convenções.
Folhas secas que em seus pés tornavam-se naturezas mortas.
Até que beijavam as redes dos goleiros indefesos.
Em Didi tudo era Cézanne.
Os passes tortuosos representavam a geometria como o mundo nunca vira antes.
Didi já era moderno e o torcedor não suspeitava.
Mesmo assim, quem amava o futebol se embevecia.
Recusado na Copa de 50, jovem e incompreendido nos salões de arte, Didi em breve seria unanimidade.
Jogo de cartas marcadas.

O FUTEBOL ARTE (Roberto Vieira)